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Vamos todos perder qualidade de vida na longevidade?

Qualidade de vida tem muito a ver com a percepção que se tem sobre a vida
29/10/2021 09:51 de Bradesco Saúde | https://www.bradescoseguros.com.br/

Especialistas mostram que qualidade de vida tem muito a ver com a percepção que se tem sobre a vida. Saiba o que fazer para não a perder lá na frente

Fato número 1: os brasileiros estão envelhecendo mais. Fato número 2: ninguém quer morrer cedo. Fato número 3: desejamos que esse envelhecimento seja com qualidade, preferencialmente sem qualquer dependência. A relação de fatos presente neste parágrafo combina com aquilo que você sente quando pensa no seu futuro? Aliás, você pensa (e age a favor) sobre o envelhecimento?

A pesquisa Oldiversity, produzida pelo Grupo Croma, traz uma ideia de como os brasileiros encaram esse processo natural chamado envelhecimento. Dentre as 2.032 pessoas entrevistadas, 29% afirmaram estar preparadas para perder qualidade de vida quando estiverem mais velhos. Esse número aumenta substancialmente quando o recorte é feito entre aqueles com mais de 61 anos: 49%.

Será então que estamos mesmo fadados a perder qualidade de vida lá na frente? É possível evitar ou retardar esse destino? O que podemos começar a fazer agora para mudar esse jogo?

Com essas perguntas em mãos, o Viva a Longevidade foi atrás de três especialistas para tentar mostrar o que é que pode ser feito em nome da qualidade de vida. Um pequeno spoiler para você: será preciso mudar para uma cultura da longevidade e começar agora a cuidar dessa pessoa tão especial que será você lá na frente.

Antes de tudo: o que é qualidade de vida?

Está aí uma boa pergunta.

Apesar de pensarmos quase que automaticamente na qualidade de vida como algo que nos permita ter uma rotina boa e saudável, conceituá-la é igual redefinir a senha do seu e-mail ou do cartão de crédito: é pessoal e intransferível.

Se você perguntar para Laura Machado, mestre em psicologia, especialista em gerontologia e membro do ILC-Brasil, ela irá resumir todo o conceito em uma única palavra: percepção.

“Qualidade de vida tem condições objetivas e subjetivas. Você pergunta para uma pessoa quantas horas ela dormiu e ela responde a quantidade. Isso é um parâmetro objetivo. Daí, você pergunta se ela dormiu bem e ela diz: ‘Dormi ótimo’. Essa pessoa pode ter tido somente quatro horas de sono, mas a percepção é que ela ficou satisfeita. Aí entra o parâmetro subjetivo”, explica.

Percepção é a palavra-chave da definição dada pela Organização Mundial da Saúde: “qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.

De fato, muita coisa compõe o conceito de qualidade de vida. “Temos a dimensão física, psicológica, o ambiente e a interpessoalidade. São modelos que ajudam a medir o grau de percepção”, explica Marcelo Pio de Almeida Fleck, professor titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Centro Brasileiro do Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-GROUP).

Mas, para o acadêmico, por mais que existam esses parâmetros, não é possível dizer se o entendimento sobre a qualidade de vida ou o bem-estar está certo ou errado. “A percepção é o centro. É o que caracteriza se uma pessoa está, de alguma forma, bem consigo mesma e com o que ela tem.”

A qualidade de vida pode ser desenvolvida?

Sim, pode! E veja só, tem muita gente interessada nisso. Na mesma pesquisa Oldiversity, 63% dos entrevistados disseram investir na qualidade de vida (77% entre os 61+).

Mas o que seria esse investir na qualidade de vida? Será que estamos realmente pensando no nosso futuro? Para Laura Machado, não: “É muito difícil que isso aconteça se você não viver numa cultura que pense na longevidade. Isso é algo que a sociedade vai ter que mudar. A gente não pensa na longevidade”.

“Pensar a longevidade” demanda uma mudança de cultura: menos “cura” e “tratamento” e mais “prevenção”.  Certo, e aí você se pergunta: como mudar isso?

Segundo Laura, há dois caminhos: um coletivo, em que a criação e negociação de políticas públicas internacionais tem um fator determinante, e outro individual, em que as escolhas que fazemos ao longo do curso de vida são cruciais para a construção da qualidade de vida.

“Para investir na qualidade de vida para o futuro você tem que abrir mão de uma porção de coisas no presente.” Laura Machado

Timóteo Araújo, professor de educação física e do programa SeniorFit das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), é um adepto de fazer aquilo que está ao nosso alcance, as ações individuais, sabe?

O educador destaca que pequenas alterações em nossa rotina já jogam a favor da qualidade de vida. Um exemplo muito simples: levantar e movimentar o corpo a cada hora em que ficamos sentados na frente do computador trabalhando. Mais do que 60 minutos nessa posição sedentária pode ser danoso para o corpo.

Digamos que a sua escolha para começar a construir a qualidade de vida seja adotar outros hábitos, como mudar a alimentação ou passar a se exercitar mais. E, olha, não precisa ser um superatleta. Um simples subir e descer escadas ou caminhar para se deslocar já proporcionam resultados positivos para o corpo.

Importante: ouça o corpo na construção da qualidade de vida.  “Todo movimento conta para o bem-estar do corpo”, diz Araújo. Então, quanto mais melhor? Não é bem assim. “O excesso de exercícios pode causar uma ressaca, e o corpo dará sinais de que precisa parar. Não adianta se esforçar mais que o necessário para depois tomar remédios. Ao longo dos anos, a imunidade fica tão comprometida quanto a de uma pessoa sedentária”, explica.

Qualidade de vida e longevidade

A pesquisa Oldiversity mostrou que 77% das pessoas com mais de 61 anos afirmaram estar investindo na sua qualidade de vida. O que significa isso quando já caminhamos boa parte dessa jornada?

Antes de tudo, é bom lembrar que o envelhecimento é um processo e, portanto, não começa quando completamos 60 primaveras. O bom envelhecer é uma construção de vida. É por isso que não existe uma qualidade de vida mágica. “Ela depende de esforço, disciplina e trabalho”, afirma Machado.

Soma-se a isso a tal da percepção, que falamos lá no início do texto. Qualidade de vida não é sobre padrão de vida, conceitos econômicos de vida. Na entrevista ao Viva a Longevidade, Fleck e Machado usaram o mesmo exemplo: uma pessoa com uma renda menor pode se sentir confortável com a vida que tem, com seu trabalho, mesmo que enfrente dificuldades.

E quando falamos de qualidade de vida na velhice, lá está ela, a percepção de novo.  Fleck fala de um artigo chamado “Paradoxo da incapacidade das pessoas muito idosas”, que mostra que, apesar da queda natural e esperada na saúde física e mental à medida que vamos envelhecendo, pessoas com mais de 80 anos ouvidas para a elaboração do documento achavam que estavam bem de saúde. “Vamos dizer que elas estão erradas? Não”, disse o acadêmico.

Pois é, a partir de uma determinada idade, vamos nos deparar com perdas, em diferentes campos das nossas vidas, que irão impactar de alguma forma a nossa vida. Por isso, vale não só a máxima de começar o quanto antes a mudar para uma cultura longeva como também passar a praticar ações e realizar escolhas que sejam favoráveis para que o seu eu futuro viva melhor.  

“Quem vive muito é possível que perca qualidade de vida, sim”, sentencia Machado. “Mas quanto melhor isso for cuidado ao longo do seu curso de vida, mais chances essa pessoa terá de não perder tanta qualidade de vida.”

 

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